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terça-feira, 27 de setembro de 2011

Estilo de Viver
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Tribos urbanas

por Maíra Donnici | 22/04/2005

Grunges, patricinhas, roqueiros, punks, surfistas, góticos, clubbers, hypes, cults... No melhor estilo diga-me com quem anda que te direi quem és, entrevistamos alguns exemplares para descobrir um pouco mais sobre as tribos urbanas.




Eles andam em bandos. Na maioria dos casos, se comportam, pensam, falam e se vestem parecidos. Isso porque, para pertencer a um grupo, adotam uma série de elementos, sobretudo externos, que compõem seu universo paralelo. E assim, identificam uns aos outros em meio à heterogeneidade das grandes cidades. Grunges, patricinhas, roqueiros, punks, surfistas, góticos, clubbers, hypes, cults... São diversos subgrupos sociais, verdadeiras tribos que formam o espaço urbano. Para quem está de fora, eles são, no mínimo, exóticos. Há os que nutrem certo preconceito com o desconhecido. O tal etnocentrismo antropológico de rejeitar o que é diferente. Existem até os que rivalizam com membros de outros núcleos. Estereótipos? Eles dizem que não! No entanto, um fator é certo, quem faz parte de um grupo como esses nunca mais se sente um rosto desconhecido na multidão. No melhor estilo diga-me com quem anda que te direi quem és, entrevistamos alguns exemplares que desmistificam opiniões e confirmam outras.

Uns são unidos pela paixão por esportes. Outros, pelo tipo de música. Há os que se identifiquem pela ideologia e até pela maneira de vestir. Não importa o que converge essas pessoas, uma vez juntas, elas adquirem estilos de vida comuns e carregam o estandarte da sua tribo. Estudante de direito e surfista há cinco anos, Ana Paula Costa praticamente se reformulou depois que passou a encarar sua paixão pelas ondas com mais seriedade. Com o tempo - grande parte passado nas águas da praia de Ipanema, no Rio de Janeiro –, ela foi mudando sua forma de falar, o vestuário, a maneira de ver o mundo e, claro, as companhias. "O surfe não é só um esporte, é quase uma filosofia. Acordar cedo, gostar da natureza, de ficar horas dentro d’água pensando ou trocando idéias com outros surfistas, que acabam se tornando amigos próximos", explica Ana Paula. E, como todo o grupo, eles também têm seu próprio dialeto. “Quem está de fora às vezes nem entende o que a gente fala por causa das gírias”, diz a ela, que garante que os surfistas não são pessoas que passam o dia inteiro na praia pegando onda. “Eu estudo, faço estágio, sei quando posso usar o palavreado e vestir roupas floridas”, alega Ana Paula, se esquivando do preconceito.

Legal, né, brother – ou sister, já que se trata de um site feminino. Muito longe das praias, se encontra o estudante e grunge assumido (embora ele tenha relutado no início) Bernardo Brum, que confessa ser vítima de preconceito de quem o rotula só pela aparência. Na verdade, a onda dele é outra. Tudo começou por causa da música. Depois, se estendeu para o modo de pensar e culminou na transformação de outros aspectos ligados a uma filosofia que ele mesmo define: “A ideologia é o mais importante. Os grunges não se importam com a opinião alheia, sem a neura de ligar para críticas. Por isso, eu sou averso à moda. O estilo grunge abraça várias ideologias que o Rock pode trazer, por exemplo”, comenta Bernardo. Segundo ele, esse papo de que grunge não toma banho é intriga de quem está de fora. “Nós apenas não somos tão preocupados com aparência como as outras pessoas”, alega o estudante, adepto dos shows de Heavy Metal, camisetas de flanela e roupas pretas. O estilo de música radical é visto com maus olhos. Porém, ele não se intimida. “Algumas pessoas na escola olham torto, porque elas não sabem que somos pessoas normais. Quando você é adolescente, quer encontrar que gente que pensa parecido. Os grupos são importantes para se enturmar”, defende-se Bernardo.

Cidades grandes abrangem uma infinidade de prédios, pessoas dos mais variados tipos e, como não, outdoors por todos os lados. Mas não precisa olhar para cima para achar as tendências desta e até da próxima estação. É só esperar uma patricinha ou mauricinho passarem engomadinhos nas passarelas da rua. Não se trata de uma ideologia comum – e nem da falta de qualquer outra, como muitas devem estar pensando –, é, acima de tudo, estilo. Se os grunges não se preocupam com a aparência, esses são peritos em marcas. Eles não têm endereço certo, porque, afinal, a moda é efêmera. Basta olhar para um lugar badalado que você vai encontrar muitos como a advogada Juliana Abreu. “Eu a-d-o-r-o estar bem vestida com tudo o que está na moda, e isso não quer dizer que eu seja fútil. Se as pessoas forem julgar só pelo que vêem, realmente, vão achar que eu não tenho conteúdo, porém o jeito que eu falo, o modo como eu me visto são apenas elementos externos”, alega Juliana.

Programas e lugares típicos, acessórios, livros, músicas. É fácil reconhecer membros de tribos urbanas, mesmo quando eles fazem questão de evitar denominações. Só que não precisa ir nos seus nichos para reconhecer um gótico em sua sensível obscuridade, o senso crítico e contestador dos punks, o jeitinho natureba dos hippies... Não que eles sejam todos iguais, mas sempre existe um traço que os une e é passível de identificação por quem está de fora. Em uma sociedade tão diversa, o motivo pelo qual pessoas se juntam em um grupo não é mistério. A psicanalista Alba Senna explica que todo mundo precisa se sentir parte de algum grupo. “O ser humano tem necessidade de se grupalizar como uma forma de ser amparado e não se sentir sozinho. Assim, busca outros com os mesmos traços, seja de pensamentos, modos de vestir, músicas etc. E como esses elementos se exteriorizam, existe uma taxação, já que se formam verdadeiras tribos”, analisa Alba. Pois é, e não adianta julgar o que a gente não conhece. “Temos tendência a tecer opiniões sobre o que é diferente sem conhecermos. As pessoas não são melhores nem piores por causa de seus gostos e cabe a nós uma segunda impressão”, conclui a psicanalista.



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